Aplicação da Genômica de larga escala para o diagnóstico de doenças raras e do risco hereditário de câncer no Brasil, em serviços públicos de saúde.

Resumo

As doenças raras, em conjunto, abrangem um grupo de 9603 enfermidades distintas, e têm uma prevalência cumulativa estimada em 1,5 a 6,2% da população (FERREIRA, 2019). Isso representa, no Brasil, um número total de 3,2 a 13,2 milhões de indivíduos, com grande impacto nos serviços de saúde. Especialmente desafiadora é a realização do diagnóstico definitivo desses pacientes, levando a verdadeiras peregrinações dentro do sistema de saúde, com grande atraso e consequente aumento de morbidade e mortalidade (STARK et al., 2019).

Com a implementação do chamado Sequenciamento de Nova Geração (NGS, da sigla em inglês para Next Generation Sequencing) houve um aumento exponencial da velocidade com que se pode sequenciar o material genético, e uma redução de mais de 10.000 vezes nos custos de sequenciamento (LAPPALAINEN et al., 2019). Essa revolução tecnológica permitiu avanços notáveis no diagnóstico, prevenção e tratamento de muitas condições humanas. Em oncologia, por exemplo, através do estudo de algumas dezenas de genes em um indivíduo é possível determinar se há um aumento no risco de certos tipos de câncer, quando comparado à população geral, o que permite uma medicina preventiva de precisão.

O advento do NGS também impactou substancialmente o estudo das doenças raras, com a descoberta de novos genes em centenas de patologias. Esse conhecimento permite não somente um diagnóstico mais preciso, poupando tempo e potencialmente reduzindo os custos de investigação, mas também permite o aconselhamento genético familiar, com benefícios imediatos aos familiares e consequentemente à sociedade. O genoma completo também é potencialmente capaz de substituir vários outros exames, levando não só à diminuição do custo total com a investigação genética, mas também a uma diminuição do tempo total da jornada diagnóstica (LIONEL et al., 2017). Além disso, o conhecimento do diagnóstico exato pode permitir uma terapia adequada, com melhores desfechos no longo prazo.

No Brasil, atualmente, não há nenhum projeto de abrangência nacional almejando sequenciar o genoma de um grande número de pessoas, com diversas doenças genéticas. Este estudo sequenciará 850 pacientes com suspeita de doenças geneticamente definidas, em diferentes especialidades. O sequenciamento desses pacientes proverá diagnóstico genético de alta qualidade, com impacto imediato no seguimento e tratamento dos pacientes. Ainda, resultará na criação do maior banco de dados da genética do povo brasileiro, com implicações práticas, para uso no diagnóstico genético de doenças raras, e implicações para pesquisa, com uma grande quantidade de dados que podem ser usados para projetos de pesquisa. Com esse banco de dados espera-se obter avanços contínuos na aplicação de medicina de precisão para o melhor uso dos recursos oferecidos pelo SUS.

Introdução

Com a publicação das diretrizes para atenção integral às pessoas com doenças raras em 2014, o SUS ganhou uma linha condutora para o reconhecimento e conduta desses indivíduos, visando reduzir o sofrimento dos pacientes e seus familiares, e diminuir a jornada ao diagnóstico e tratamento corretos, permitindo ao gestor de saúde uma disponibilização racional dos recursos.

Através da criação dos Serviços de Atenção Especializada e Serviços de Referência às Doenças Raras será ofertada a assistência integral e multidisciplinar aos pacientes e familiares, sendo uma das garantias o acesso aos recursos diagnósticos. Por este motivo é de extrema importância que projetos de diagnóstico e caracterização das doenças raras sejam abrangentes a todo território nacional.

A abordagem por testes extremamente específicos visa, principalmente, o diagnóstico das doenças raras mais conhecidas. Entretanto, a jornada de diagnóstico de pacientes com doenças raras nem sempre é direta, de uma suspeita clínica a um exame e um diagnóstico. Muitas vezes os pacientes passam por toda a lista de exames e permanecem sem diagnóstico, elevando o custo de investigação e acompanhamento deste indivíduo sem trazer o benefício direto de um diagnóstico molecular.

Neste projeto, a inclusão do sequenciamento completo de genoma na investigação de indivíduos com doenças raras, incluindo as síndromes de risco hereditário de câncer, deve complementar e expandir a política atual, aumentando significativamente a capacidade diagnóstica e permitindo avaliar em projetos futuros a custo-efetividade dessa ferramenta em vários cenários, para uso no SUS.

Métodos

Resultados

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HIAE e está na etapa de inclusão dos Centros de Referência em Doenças Raras para início da coleta de amostras.

Liderança
João Bosco Oliveira Filho – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes

Equipe
Tatiana Ferreira de Almeida – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes
Murilo Castro Cervato – Hospital Israelita Albert Einstein
Bruna Mascaro Cordeiro de Azevedo – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes
Danielle Ribeiro Lucon – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes
Rafael Lucas Muniz Guedes – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes
Elison de Souza Pereira da Silva – Hospital Israelita Albert Einstein
Edson Alves de Souza – Hospital Israelita Albert Einstein
Diego Delgado Colombo de Oliveira – Hospital Israelita Albert Einstein
Ariely Mayumi Diletti Ideguchi – Hospital Israelita Albert Einstein
Carolina Naomi Izo Nakamura – Hospital Israelita Albert Einstein
Gabriel Hideki Izuka Moraes – Hospital Israelita Albert Einstein
Pedro Lui Nigro Chazanas – Hospital Israelita Albert Einstein
Francisco Ivanio Arruda Alves – Hospital Israelita Albert Einstein
Nuria Bengala Zurro – Hospital Israelita Albert Einstein
Gustavo Santos De Oliveira – Hospital Israelita Albert Einstein
Gabriela Borges Cherulli Colichio – Hospital Israelita Albert Einstein
Camila Oliveira dos Santos Alves – Hospital Israelita Albert Einstein
Maria Soares Nobrega – Hospital Israelita Albert Einstein

Colaboração
Cristóvão Luis Pitangueiras Mangueira – Hospital Israelita Albert Einstein – Lattes

Área Técnica
Coordenação-Geral de Atenção Especializada, do Departamento de Atenção Especializada e Temática, da Secretaria de Atenção à Saúde (CGAE/DAET/SAS)

Fonte:
https://hospitais.proadi-sus.org.br/projetos/156/genomas-raros

Como participar

Pacientes brasileiros que atendam aos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos para cada patologia e sob seguimento em um centro de referência de doença rara do SUS podem participar da pesquisa.

Os pacientes devem procurar atendimento nos centros de referência de doenças raras credenciados pelo Ministério da Saúde (consulte a lista), e discutir com o seu médico se a participação no projeto é adequada. Uma vez que o profissional responsável de cada instituição participante identifique um paciente com os critérios de inclusão, a ele será oferecido um Termo de Consentimento Livre e esclarecido para que ele tenha a oportunidade de participar do projeto “Genoma Raros”.